Wednesday, July 26, 2006

Já que o www.rasgamortalha está publicando sua postagem de número 501, vamos aproveitar pra anunciar a criaçõ de um folhetim em formato de blog ou blog que sonha ser folhetim, mas o endereço é www.folhetimnanet.blogspot.com. e aproveitem e saquem www.danielbarbosa.blogspot.com




















(pintura:WWW.DANIELBARBOSA.BLOGSPOT.COM)

Carrapatos.

Presas a redes, teias e tentáculos,
Sonâmbulas miríades perdidas
Atestam fungos, traças,
E as silogísticas gravuras
Encerrando páginas abertas.

Todos os lunáticos segredos,
E a vontade de cuspir
E urinar fervendo
Nas faces imberbes
Acompanham um medo de nós,
Ocos e cheios de espelhos.

Vende-se fome
E sondas espaciais.

Compram homens,
Almas vivas
Ou quase
E suas histórias
Sem lembranças.

A necessidade do inútil
Pede um blues com mais compassos,
Elaborado não sei onde,
Apimentado, original,
E com gosto de fuga.

Mas algo precisa ser feliz
Nem que seja só prelúdio
A essência do mosaico.

Sunday, July 09, 2006

Tarde

Em carretéis de sois nordestinos
Do meu canino em teu mamilo vibra
O recital de um labirinto finito.

E mastigo o carinho essencial
E esqueço por ande andávamos descalços.
Pelos paralelepípedos, cascalhos,
Embalados pra viagem
Em nossa concha de moluscos.

Sorriamos um beijar sem precedentes.
Desbravadores das lajes frias,
Molestadores de ideários sujos,
Inominados e sem prefácio definido.

É bom lembrar de certo cheiro
De guria assustada
E o reverberar dos seus anseios
Com o desprezo e a dedicação
De quem bebe o gole das últimas
Águas ardentes.

No verão de toda a brasa decomposta
As fumaças são sugadas.
E rejubilo embriagado
Recriando a improvável textura
Daquela saia azul cinza.

Saturday, July 01, 2006

O TRIPANÓSSOMOS dessa semana tem o poema inédito Último Suspiro, o poema Desabafo dedicado aos imbecis neo-parnasianos da atual poesia feirense e o conto Sensações Habituais II.
O Conto Sensações Habituais I se encontra no final dessa página. Abaixo de cada artigo, o leitor pode encontrar a palavra comments; é só clicar alí e deixar qualquer comentário. Como dizia um velho amigo que pode nunca ter existido:"Quem lê, está por cima da carne seca". Então, quem lê, entende e comenta, pode subir ainda mais.
Um abraço deste sórdido editor!












(Regard:The Human Condition)

DESABAFO

Eu queria escrever estes versos,
Mas eles não serão escritos
Estes versos deveriam ser sóbrios
Éticos, sombrios
E a poesia seria constituída
Do aroma destes versos
Precisos como HAI-KAI
E belos como os de Luis de Camões.

Nunca chegarei a escrever tais versos.
A minha literatura é hipotética, onírica.
E a minha produção?

Se produzo arte, faço como quem come
Como quem fode, como quem fuma.

A literatura? A arte?
A literatura está no som de nossos passos,
A arte está em gozo e asfixia

Teoria da arte, metodologia....

...ciência não rima com arte
Magia que se contamina.

O lúdico não precisa de referencias Bibliográficas

A academia jamais fará com que alguém
Sem o cósmico uníssono
Possa vislumbrar e compartilhar do orgasmo
Em gênesis poético.

Quero o lírico-mulher,
E geme e sua na pele que esconde
Maravilhosos filamentos
De actina e miosina.

Que se fodam a musa
A deusa e a medusa!














(Gravura: Ferla/Título:Bossa-Nova)
Sensações Habituais II.

Eu não sei quem surgiu primeiro, a poesia de amor ou o sentimento, a música romântica ou o amor. Às vezes essas obras parecem pré-existentes e penso que sem elas, sofreríamos menos. Não fantasiaríamos tanto uma relação e, num dado momento, em local adverso, encher os olhos d’água quando se ouve alguns acordes que lembram alguém que já não está mais ali, nos deixa num estado de espírito que faz com que tudo á nossa volta - lotações, outdoors, ambulantes, lojas de calçados, emprego, propósito - permaneçam em espécie de suspensão atemporal enquanto a letra e os arranjos te levam á uma dimensão que só o homem afetado pode sentir e não adianta querer transmitir, seja em música, prosa ou verso. A dor pode gerar belas palavras, mas não há palavra capaz de traduzir as dores que alucinam.
Quando falo dessas músicas com dons de transformar a nossa existência por alguns minutos, enchendo a vida de saudades, não me refiro á qualquer reles canção romântica, mas aquelas que ouvíamos juntos e que muitas vezes significavam e significam a construção histórica de uma realidade que só existe nesse instante mágico e pensamos o que deveríamos ter feito. Como disse Pessoa na pessoa de Bernardo Soares: “Qual de nós pode, voltando-se no caminho onde não há regresso, dizer que o seguiu como o devia ter seguido?”. Fico perplexo com os seres que abrem a boca repletos de satisfação e falam, até esvaziarem os pulmões, que não se arrependem de nada que fizeram. São criaturas incapazes de abstração. Mas de que serve a abstração no sentido prático da vida? Mas pra quê sentido prático da vida se num instante de sol ou chuva posso ouvir as vozes e as melodias no meu instantâneo mundo de altista?
Eu até queria dar um significado universal ao que estou escrevendo como se quisesse conferir uma carga de literariedade só que, se eu não tivesse sentado neste buteco e não houvesse tocado Tim Maia no rádio, eu jamais me recordaria daquela tarde em que bebíamos juntos e comíamos pastel com o velho Duda na Kalilândia, do teu sorriso na chapada Diamantina ao som do Led Zeppelin, dos teus cabelos que tingiam o céu de Cachoeira embalados por Ventura dos Hermanos, das coreografias imprevisíveis se Cake era a pedida, seus sussurros e gemidos com Etta James e de como era bom te amar ouvindo tua voz mesclada à de Cássia Eller ou Janis Joplin.
Nossa última canção antes do fim foi I want you do velho Dylan e, se você quiser, transforme tudo que escrevi em música que é pra tocar no rádio, no rádio do teu coração.
Último Suspiro

Renascido reescrevo
Como o sumo do maracujá,
Azedo e belo
Quando rasgam as mortalhas.

Jamais houvera uma Pasárgada
Tão infame quanto essa,
O paranóico delira
E as teclas obedecem.

Sentimento oriundo das tragédias shakespeareanas
E a submissão absoluta de todas as Penélopes,
Venham a mim aquáticos dias de Colombo
Em cintilantes trilhas-sonoras punk-rock.

E beberei á mesa dos imortais
Da Academia Brasileira de Letras
E mergulharei na Guanabara
E sairei no São Francisco;
Mortal batizado em Atlântida
Que espera o sol na beirada do rio.

Não há cor na natureza
Como a cor duma cerveja
E, se fosse o céu
Da cor dessa cerveja,
Eu, com certeza,
Teria asas-nadadeiras
E um pedaço de papel.