Saturday, April 28, 2007

(...) Mas são muitos personagens e eles borbulham em minha cabeça e, várias vezes, são mais vivos quando não escrevo. Nesses meses sem literatura e sem a sagrada missão da incansável busca da imortalidade nas páginas obituárias, os personagens crescem, muitos imprevisíveis e sem importância que acabam galopando e seus sorrisos são reais.
Como escrever sobre delírios e sentimentos e frustrações e sonhos de estrelas além? É preciso sangue nessas páginas. Não sangue menstrual, mas alguma violência, um esquartejamento, um santo que nos envolva em música e éter e comida congelada de self-services de posto de gasolina. Algo ao mesmo tempo trágico, épico, contemporâneo e sensual, mas sensual é ser vulgar? Claro que é, e é nisso se encontra a sua ascensão. A primeira coisa seria delimitar um tema grandioso envolto em mistério profundo, adequado à linguagem universal dos best-sellers ocidentais com certos momentos disfarçando uma humanidade qualquer. Mas você quer que as palavras tomem vida por geração espontânea, ao léu e sem destino pré-estabelecido? O que o leitor tem a ver com essa merda toda? Creio que se o leitor estivesse interessado em discutir a relação do artista com a sua obra ira, com certeza, ás cartas de Van Gogh que, segundo Miller em Tropic of Cancer: “É a vitória do indivíduo sobre a arte”, mas isso já é uma outra história. Então deixemos o célebre pintor holandês e suas comoventes cartas ao irmão Théo para voltarmos a atmosfera feirense de um quarto de motel, onde eu não agüentei ver Alice no chuveiro e o contraste das tatuagens com sua pele branca lembrou-me Cruz e Souza. “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras...” e o cheiro de perfume de erva doce em sua pele, a água com negro gosto de cabelos frios e minha pica no meio de suas pernas e a advertência do ministério da saúde sobre fuder sem camisinha e eu todo já lá dentro e que a sorte me proteja. Acho que protegeu. Tô vivo até hoje, escrevendo e de pau duro devido à lembrança daquele instante liquefeito. This is rock’n roll baby, the real one!
(A história completa e em andamento encontra-se em www.folhetimnanet.blogspot.com)